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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

São Paulo quer mais um Tiririca

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Guilherme Fiuza é jornalista e autor de vários livros, entre eles “Meu Nome não é Johnny”, adaptado para o cinema. Neste blog, trata de grandes temas da atualidade, com informação e muita opinião principalmente sobre política.

(ÉPOCA – edição 753)
O eleitorado de São Paulo, como se sabe, é dado a ataques de tédio. Volta e meia inventa um Enéas, um Clodovil, um Tiririca – e assim cria grandes fenômenos de votação pelo simples prazer de ver um palhaço tocar fogo no circo. Na eleição de 2012, os paulistanos estão ameaçando mais uma travessura.


Apesar do enorme destaque em torno do julgamento no STF, a tragédia do mensalão não tem sido bem compreendida pela opinião pública. Frequentemente o caso é classificado como um dos maiores escândalos de corrupção da história da República. O eleitor precisa entender que o roubo de dinheiro público é só um dos aspectos do mensalão. E não é o mais grave.


Na maioria dos casos de corrupção envolvendo governos, a equação básica é o uso do poder como meio para o roubo. No mensalão, trata-se de roubo como meio para a permanência no poder. O dinheiro do valerioduto era destinado essencialmente aos caixas do partido e do grupo político do presidente da República. Além da compra de votos no Congresso, servia também para despesas políticas gerais, custeio de candidaturas, alimentação da máquina partidária.


A grande chaga do mensalão não é a quantia roubada. É a ocupação da mais alta esfera de poder por um projeto político medíocre, no qual a energia para governar é desviada para os objetivos fisiológicos. Nos raros planos de governo propostos e executados pelo PT, como o emblemático Fome Zero, os resultados foram desastrosos. Pela simples razão de que ali não há planejamento, não há cérebros em busca de soluções, não há espírito público para fazer reformas estruturais – que podem ser eleitoralmente arriscadas.


A privatização da telefonia, que melhorou a vida de todas as classes sociais, jamais seria feita pelo PT. Era uma medida inicialmente antipática para a opinião pública, parecia ser a entrega “do que é nosso” (sendo que “nosso”, no caso, era deles – os pendurados no cabide estatal das telefônicas). Até hoje o partido se enche de votos demonizando as privatizações, com a tática desonesta e eficiente de defender minorias organizadas como se estivesse defendendo o povo.


É típico desse projeto de poder desmascarado pelo escândalo do mensalão transformar o Ministério da Educação em degrau para a Prefeitura de São Paulo. Num dos casos mais gritantes de inépcia administrativa já vistos no MEC, o então ministro Fernando Haddad conseguiu presidir três anos de descalabros seguidos na aplicação do Enem, transtornando a vida de estudantes no Brasil inteiro. Era uma época em que Haddad estava destacado por seus chefes (Lula e Dirceu) para um objetivo mais nobre: dar pinta nos palanques de Dilma Rousseff.


E aí está o governo Dilma, prestes a completar seu segundo ano sem um projeto relevante sequer, sustentado politicamente pela paz econômica da conjuntura – que nada tem a ver com ações governamentais. Uma presidente que assumiu para segurar a grande ocupação fisiológica, que demite os ministros que apodrecem em público, mas nem todos. Vide Fernando Pimentel, o consultor fantasma das indústrias mineiras, um morto-vivo no Ministério do Desenvolvimento – cuidando do desenvolvimento petista, exatamente a mesma missão de Fernando Haddad.


O eleitorado de São Paulo é brincalhão. Cansou de ver em ação esse ministro marqueteiro, usando o MEC como plataforma de truques populistas, como defender livros didáticos com erros de português (“nós pega o peixe”) e até torrar dinheiro com propaganda oficial para sustentar o factóide. Mais um ministro-candidato de laboratório, escalado para fazer média com minorias organizadas, para fazer provocações rasteiras a um possível adversário de seus chefes em 2014, enfim, pau para toda obra.


Eis que esse militante travestido de administrador aparece em primeiro lugar nas intenções de voto para o segundo turno. Ou seja: o eleitor paulistano está entediado de novo. Está ameaçando botar um pouco de palhaçada na política para ver o que acontece.


Vamos antecipar aqui o que acontece: conversão da máquina da maior cidade do país em palanque para 2014. O resto é secundário, eles só pensam naquilo. Valérios, Valdomiros e Sombras devem estar salivando. Até porque o Supremo acaba de liberar a lavagem de dinheiro em campanha eleitoral.