ruy castro
15/07/2013 - 03h30
Proibido obrigar
No Brasil, há 73 milhões de unidades consumidoras de energia. Se todas fossem quarto e sala --esqueça os escritórios, lojas e fábricas--, e à média de 30 tomadas em cada, o número de tomadas a adaptar passaria de dois trilhões. Pode-se avaliar a sensação de poder que deve estar embriagando o pai da tomada de três pinos no Brasil?
O mesmo quanto a uma medida mais antiga e já em circulação em muitos Estados: a proibição de saleiros nas mesas dos restaurantes e sua obrigatória substituição por aqueles sachezinhos de sal. A cada 200 refeições servidas por um restaurante, 100 sachês são abertos pelos clientes, salpicados com culpa sobre a batata frita e deixados quase intatos sobre a mesa.
Agora multiplique o número de restaurantes em sua cidade pela média de refeições que eles servem por dia e, sendo generoso, divida o resultado por dois, se achar que em apenas metade delas se abrirá um sachê. O resultado será a monumental quantidade de sachês/lixo produzida por uma única cidade e cujo destino serão os lixões --ou os esgotos, os rios e o mar. E só porque alguém implicou com os saleiros.
No Brasil, por 21 anos, foi quase proibido votar. Hoje é obrigatório. Mas, com esses partidos e políticos, deveria ser proibido obrigar.
Ruy Castro, escritor e jornalista, já trabalhou nos jornais e nas revistas mais importantes do Rio e de São Paulo. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas, quartas, sextas e sábados na Página A2 da versão impressa.