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domingo, 8 de outubro de 2017

"Quadrilha olímpica", Mary Zaidan

Quadrilha olímpica


Eduardo Paes e Sérgio Cabral, prefeito e governador do RJ, Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, Lula, presidente da República, Orlando Silva, ministro dos Esportes, no dia que o Rio foi escolhido como sede das Olimpíadas 2016, 02/10/2009 (Foto: O Globo)
A compra de votos para que o Rio de Janeiro sediasse os Jogos Olímpicos de 2016 não é novidade – foi detonada em Paris no início do ano. Tampouco o vício do ex-governador Sérgio Cabral pela corrupção ativa. O que espanta na prisão de Carlos Arthur Nuzman, suspenso temporariamente da presidência do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), é o fato de a questão ter se limitado ao noticiário esportivo.
Pouco sobre a Copa do Mundo de 2014 e a Rio-2016 dizia respeito ao esporte. Ambos eventos enriqueceram os amigos do rei, energizaram candidaturas de petistas e aliados, e empobreceram o país.
O delator da trama pró-Rio-2016, Eric Maleson, que presidiu a Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, diz que procurou as autoridades francesas depois de o governo da então presidente Dilma Rousseff ter “abafado” as denúncias que ele fizera, em 2013, à Polícia Federal. Ele afirma que a PF trabalhou com afinco e avançou muito, mas teria sido impedida de continuar - “por Brasília”.
Nem Dilma, nem Lula reagiram à acusação. Nenhum pio.
O interesse de trazer os jogos para o Brasil compunha a megalomania do ex-presidente Lula, custassem o que custaram, ou mais. E foi caríssimo. Uma conta a ser paga por várias gerações.
Estima-se que foram gastos em torno de R$ 30 bilhões com a Copa e outros R$ 37 bilhões com a Olimpíada do Rio. Mas a conta é infinita.
No caso do Rio, que até conseguiu acelerar obras do metrô e do BRT, além de concluir uma gigantesca intervenção urbana na área central, os equipamentos construídos para os jogos se deterioraram com rapidez acelerada.
Nada dos prometidos parques populares e áreas de treinamento de modalidades esportivas. O pouco que continua em pé foi salvo pelo investimento privado do Rock in Rio, com a transformação de parte do parque olímpico em Cidade do Rock.



E Deus salve o rock.
Além da amargura dos 7 x 1 sofridos pela seleção canarinho para a Alemanha, o mundial de 2014 deixou estádios moderníssimos e superfaturados, que exigem fortunas mensais dos governos estaduais para evitar que eles sejam ocupados pelas baratas.
A arena Pantanal acumula prejuízo superior a R$ 8 milhões depois de ter consumido R$ 628 milhões para ser construída. A de Pernambuco amarga vermelho semelhante e exige R$ 860 mil por mês em manutenção. E o escândalo maior – o Mané Garrincha, no Distrito Federal –, cuja reforma bateu em R$ 1,8 bilhão, gasta algo em torno R$ 8,4 milhões ao ano para se manter.
Tudo pago com dinheiro do cidadão que trabalha para quitar impostos e que quase nada recebe em troca. Por gente que o fisco insiste em chamar de contribuinte, mas que, certamente, não desejaria contribuir com tamanho desatino.
Nem os bilhões superfaturados com as arenas da Copa e nas obras olímpicas, nem as 16 barras de ouro de Nuzman, encontradas em um depósito de luxo na periferia de Genebra, poderiam ser amealhados apenas a partir da esperteza de uns e outros.
Ao que tudo indica, Nuzman teve sinal verde para comprar juízes olímpicos. Pagou por eles e embolsou sua parte do negócio.
Nada fez de diferente da prática idolatrada pelos governos petistas de que os fins justificam os meios, ainda que se inclua comissão pessoal, embolsada em espécie ou mimos.
É pouco provável que Nuzman tenha agido por conta própria, ou mesmo que seja apenas um dos integrantes do bando de Cabral. Assim como é dificílimo crer que Cabral tenha sido o criminoso mentor para que o Brasil de Lula, em 2009, vencesse a disputa da sede olímpica. Mas isso as investigações vão dizer.
Sabe-se, por ora, que Nuzman é caso de polícia. Mas tudo no entorno dele é política pura. E da pior espécie.
Eduardo Paes e Sérgio Cabral, prefeito e governador do RJ, Carlos Arthur Nuzman, presidente do