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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

No Brasil há mais facilidade para a entrada de terroristas, assassinos do que para o FUTURO que é considerado um clandestino...



BBC
09/09/2015 09h02 - Atualizado em 09/09/2015 09h02

Mais da metade das capitais do Brasil já têm projetos de lei contra o Uber

Legisladores municipais de 15 capitais e do DF, além de outras nove cidades, já apresentaram propostas para impedir atuação do polêmico serviço de carona paga.

Da BBC
Serviço de caronas pagas do Uber é alvo de projetos de leis em diversas cidades do país. (Foto: BBC)
BBC
09/09/2015 09h02 - Atualizado em 09/09/2015 09h02

Serviço de caronas pagas do Uber é alvo de projetos de leis em diversas cidades do país. (Foto: BBC)
Esta quarta-feira será um dia de apreensão para a empresa Uber nos dois principais mercados que atua no Brasil. dores de São Paulo votarão pela segunda vez um projeto de lei que veta o uso do aplicativo de mesmo nome na cidade. E espera-se que o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, sancione um projeto semelhante já aprovado pelo Legislativo municipal.
Mas não é só nestas cidades que o serviço enfrenta contratempos. Um levantamento da BBC Brasil mostra que já existem projetos de lei que buscam banir o Uber em 15 capitais e no Distrito Federal.

Hoje, a empresa está presente em apenas quatro capitais - Belo Horizonte e Brasília, além de Rio e São Paulo. Em todas, existem projetos de lei contra o serviço prestado pelo Uber.
Mas vereadores de outras 13 capitais brasileiras - Vitória, Maceió, Curitiba, Salvador, Recife, Manaus, Goiânia, Cuiabá, Aracaju, Natal, João Pessoa e Campo Grande - decidiram se antecipar a uma eventual chegada da empresa.
Nestas cidades, foram apresentados projetos de lei que vetam o transporte individual e remunerado de passageiros por prestadores que não sejam autorizados pelo poder público, ou seja, ratifica a exclusividade desta atividade aos taxistas.
Segundo a lei federal nº 12.468 de 2011, é privativa destes profissionais "a utilização de veículo automotor, próprio ou de terceiros, para o transporte público individual remunerado de passageiros, cuja capacidade será de, no máximo, sete passageiros".
"O sindicato de taxistas de Maceió nos procurou, fomos atrás de informações e chegamos à conclusão que era uma proposta justa. Já temos uma frota suficiente e que em momentos fica ociosa, quando não estamos na alta temporada do turismo. A chegada do Uber poderia ser um desastre", diz o vereador Galba Netto (PMDB), autor do projeto de lei na capital alagoana.
"Estamos evitando um problema no futuro, porque a chegada do Uber poderia ser um desastre." Ainda existem projetos de lei que inviabilizam a operação da empresa em ao menos outras nove cidades.
É o caso de Campinas, São José do Rio Preto, Americana, Barueri e Cotia, no Estado de São Paulo, Teófilo Otoni, em Minas Gerais, Jaboatão dos Guararapes e São Lourenço da Mata, em Pernambuco, e Serra, no Espírito Santo.
E o número de locais onde o Uber não poderá operar pode crescer exponencialmente em pouco tempo. Deputados estaduais do Espírito Santo, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Bahia já apresentaram projetos para isso em suas respectivas Assembleias Legislativas.
Procurado pela BBC Brasil, o Uber diz em nota que, por motivação política, legisladores querem proibir uma inovação "em nome da proteção de interesses corporativos".
A empresa também afirma que o serviço prestado por ela é "completamente legal no Brasil" e amparado pela lei federal 12.587 de 2012, que delimita os serviços de transporte, "fazendo uma separação entre serviço público individual (o táxi) e o serviço privado individual de transporte (que é o que os motoristas parceiros do Uber fazem)".
"Toda legislação existente hoje é voltada para o serviço de táxi, e não existe ainda uma regulação do serviço individual de transporte. Um serviço sem regulação não é ilegal, pelo contrário", afirma a empresa.
"Em alguns locais, o Legislativo demonstrou ter uma grande vontade de banir a tecnologia em vez de abrir um debate amplo com a sociedade para verificar como é possível usar esse tipo de novidade para melhorar a vida das pessoas e da cidade."
'Ilegalidade'
Desde sua chegada ao país, em maio de 2014, o Uber vem gerando polêmica em diversas cidades e provocando protestos de taxistas.
No Rio de Janeiro, o projeto de lei 122/2015 já foi aprovado em duas votações pelos vereadores e aguarda desde o dia 25 a sanção ou veto do prefeito. O prazo de 15 dias para a apreciação de Paes se esgota nesta quarta-feira.
Na semana passada, ele disse que provavelmente dará seu aval à nova lei: "O nosso caminho é o da sanção. A não ser que tenha alguma irregularidade ou inconstitucionalidade".
Caso isso ocorra de fato, o Rio, primeira cidade onde o serviço foi lançado no país, será a primeira a proibi-lo. Em São Paulo, os vereadores apreciam nesta quarta-feira o projeto de lei 349/14, que foi aprovado na primeira votação, no fim de junho, por 48 votos a favor e 1 contra.
"A aprovação do projeto acabará com uma ilegalidade de uma empresa que, em vez de dialogar com o poder público, decidiu passar por cima de todo mundo. Isso servirá de exemplo para o resto do país", diz o vereador Adilson Amadeu (PTB), autor da proposta.
"Também não existe qualquer possibilidade de regulamentarmos esta atividade. Qual é a necessidade de ter mais carros na praça se já temos condição de atender á população?"
Ser for aprovado pelos vereadores paulistanos, o projeto seguirá para o prefeito Fernando Haddad. O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, disse em entrevista coletiva em junho que o serviço é "clandestino".
Até mesmo a presidente Dilma Rousseff se pronunciou sobre a questão em uma coletiva de imprensa no início deste mês, quando disse se tratar de uma questão complexa, pois o Uber "tira emprego de muitas pessoas".
"Depende de regulamentação de cada Estado, porque não é a União que decide isso. Ele tira taxista do emprego. Acho que tem que ter posição ponderada", afirmou a presidente.
'Questão complexa'
A declaração de Dilma ecoa as reclamações de taxistas, para quem o serviço representa uma concorrência desleal. Nas cidades onde o Uber já atua, os profissionais da categoria dizem que o número de corridas diárias caiu desde a chegada do serviço.
Também criticam o fato dos motoristas do Uber não precisarem de alvará para atuar ou terem de seguir as regras aplicadas a taxistas.
Segundo a empresa, equiparar o serviço de seus motoristas parceiros ao de taxistas é um "erro".
"O táxi tem a prerrogativa de atender um usuário em qualquer circunstância. No caso da Uber, o único modo de se conseguir um carro é pelo aplicativo, sendo que é preciso estar cadastrado, com seus dados e cartão de crédito. São serviços diferentes e complementares."
A posição da companhia ganhou força com a publicação de um estudo do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, autarquia vinculada ao Ministério da Justiça, para o qual não existem "elementos econômicos que justifiquem a proibição de novos prestadores de serviço de transporte individual".
"O mercado de caronas pagas é operacionalizado por meio de aplicativos de smartphones, logo tende a operar exclusivamente no segmento de transporte individual porta a porta, ou seja, não concorre com os espaços dedicados aos pontos de táxi e nem circula pelas vias públicas em busca de passageiros", diz o economista-chefe do órgão, Luiz Alberto Esteves, que assina o estudo.
"Para além disso, elementos econômicos sugerem que, sob uma ótica concorrencial e do consumidor, a atuação de novos agentes tende a ser positiva."
O Uber cita o exemplo dos Estados Unidos. Segundo a companhia, em janeiro de 2014, existia apenas uma regulação para empresas de mobilidade urbana compartilhada, na Califórnia.
"Hoje, já existem mais de 50 jurisdições nos EUA que têm regulações deste tipo, sem contar Cidade do México e Puebla no México, Calcutá e Telangana na Índia; Filipinas, o primeiro país com uma regulação federal e também Toronto, no Canadá."
Quando perguntada se poderá questionar na Justiça a validade dos projetos de lei atualmente em discussão, a empresa diz que não quer "especular" quanto a isso neste momento.
Mas afirma que "qualquer projeto de lei que vise limitar a liberdade de empresa no Brasil e que vise proibir a tecnologia é um ato anulável por definição" e que estas "garantias constitucionais devem ser asseguradas".
A empresa dz que cabe ao Judiciário "analisar mais detidamente questões complexas e disruptivas como as que envolvem o modelo de negócios da Uber, e esclarecer eventuais dúvidas a respeito da legitimidade das leis que enderecem esses assuntos".
"Continuaremos a trabalhar junto ao poder público para demonstrar os benefícios e buscar uma legislação que fomente a inovação e o empreendedorismo."
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domingo, 19 de abril de 2015

Uma novidade assusta a tradição... Über é o nome da criatura que espalha terror aos taxistas


A destruição criadora agora anda de táxi

O Über, que está revolucionando o transporte de passageiros no mundo, é uma inovação que veio para ficar. As autoridades brasileiras precisam aprender a lidar com ela 

19/04/2015 10h01 
MELHOR ASSIM
Táxis fecham o trânsito no Rio de Janeiro, em protesto contra o Über. Em vez de combater a tecnologia, os Estados Unidos chamaram seus criadores para conversar (Foto: Jose Lucena/Futura Press)



Taxistas de cidades grandes do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba, pararam o trânsito há duas semanas para protestar contra o Über, aplicativo de smartphone que oferece transporte particular. Vereadores debatem leis para proibir o serviço, e, em São Paulo, 17 carros foram apreendidos. Os motoristas de praça acusam o serviço de concorrência desleal. Representantes do Über acusam os taxistas de defender privilégios corporativistas, acima do interesse do consumidor. Os dois lados têm suas razões, mas há uma coisa que não se pode perder de vista. Inovações tecnológicas vieram para ficar.Compreendê-las é mais útil que lutar contra elas.

O Über é um aplicativo que apresenta passageiros, interessados em ir a algum lugar, a motoristas particulares, interessados em levá-los naquele momento. O valor da corrida é variável, sujeito a leis da oferta e da procura e a promoções para atrair o público. Como chamariz, o Über seleciona carros mais luxuosos que a média do mercado e com oferta de gentilezas a bordo, como água gelada. A empresa fica com uma parcela (20%) do valor pago pela corrida. Para o Über, o negócio é um sucesso. Fundada em 2009 no Vale do Silício, nos Estados Unidos, a empresa tem valor de mercado estimado em US$ 18,2 bilhões – o que faz dela a startup mais valiosa da história. Presente em 56 países, o serviço chegou ao Brasil no ano passado.

Startups como o Über – e também o Waze, que compartilha dados dos motoristas para indicar o melhor caminho no trânsito – têm muito a ensinar aos governos sobre gestão da mobilidade. Quando uma startup é capaz de assumir com competência serviços públicos, é sinal de que a autoridade local não fez bom uso de sua posição de vantagem. A gestão pública dos táxis, hoje, é a mesma de décadas atrás: vistoria anual, taxímetro fisicamente lacrado, identificação do motorista em lugar visível. Com smartphones baratos, as prefeituras poderiam monitorar a frota de táxis 24 horas por dia. Excessos de velocidade, sumiço em dias de chuva, tudo poderia ser acompanhado. Não é. Inicialmente criticados pelos motoristas de praça, aplicativos para chamar táxi – como 99taxis, Easy Taxi e Taxijá – aumentaram a eficiência do transporte ao evitar táxis rodando vazios e ao diminuir a espera de passageiros. Tornaram dispensáveis as centrais de radiotáxi, com suas centrais telefônicas e caras taxas de adesão.A tecnologia melhorou a vida dos taxistas e baixou seus custos, mas essa redução não foi repassada ao público. O Estado finge que ela não existe. Não a inclui nos reajustes de tarifa.

O cálculo tributário nem sempre é favorável à tecnologia. Por isso, Alemanha e Espanha proibiram o Über. As prefeituras de Paris, na França, e de Nova York, nos Estados Unidos, tentam regular o Airbnb, o site de compartilhamento de hospedagem que está para os hotéis como o Über para os taxistas. Esses países fizeram isso porque os dois aplicativos geram custos coletivos, chamados de externalidades. Ao rodar em período integral, o motorista do Über impõe às seguradoras, aos órgãos de trânsito e ao sistema público de saúde um impacto maior que o de motoristas particulares comuns. No entanto, os dois grupos pagam a mesma coisa. O Über paga impostos como uma empresa de tecnologia, apesar de promover um serviço de transporte. A compensação por impactos adicionais é paga por todos, usuários ou não do serviço. Os taxistas pagam mais caro para rodar. O seguro contra danos a seus passageiros e aos demais carros, por exemplo, é mais custoso.

Os argumentos dos taxistas que protestam contra o Über incluem outras variáveis. Em troca da concessão do transporte público, o Estado obriga o taxista a submeter seu carro a vistoria específica e tem poderes para fiscalizar e punir infratores. Para atender às exigências, os taxistas precisam ter um modelo de negócios viável. Capaz de compensar o investimento e de permitir lucro compatível com o mercado, numa jornada de trabalho salubre. O país conheceu o contrário disso nos anos 1990, quando vans particulares exploraram a deficiência dos ônibus coletivos. Tivemos carros mal conservados, imprudência no trânsito e acidentes graves. Donos de vans formaram quadrilhas para regular aquilo que o Estado deixou livre. Goste-­se ou não dos serviços públicos – com frequência, não gostamos –, eles são legitimados pelo voto dos eleitores e sujeitos a auditoria externa. Os critérios de seleção, fiscalização e sanção do Über não são transparentes.

O Über, no entanto, é uma tecnologia que veio para ficar. Em vez de criminalizá-lo, o governo dos Estados Unidos decidiu chamá-lo para conversar. Lá, a empresa se comprometeu a impedir que seus carros cadastrados se recolham às garagens em dias de chuva ou que os preços das corridas disparem em urgências, como furacões. Lá, o privilégio de transportar passageiros é condicionado à garantia de boa prestação do serviço. No Brasil, não. O privilégio é hereditário, como uma capitania. Em 2013, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que transformou a permissão dos taxistas em uma herança, transferível aos filhos ou pais. O filho de um taxista é geneticamente mais preparado para dirigir um táxi? Por este e por outros exageros na regulamentação dos táxis, a discussão que o Über provoca no Brasil é saudável e bem-vinda.

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