Estadão: ‘O PAC da Ilha da Fantasia’
Publicado no Estadão desta quinta-feira
Foi mais um espetáculo digno da Ilha da Fantasia, também conhecida como Brasília, capital do menos dinâmico dos países emergentes. O Brasil cresceu no ano passado mais que em 2012 e deverá crescer ainda mais neste ano, proclamou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao apresentar com sua colega do Planejamento, Miriam Belchior, mais um balanço triunfal do PAC 2, a segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento. Em 2012 a economia brasileira cresceu apenas 1% e o desempenho no ano passado, tudo indica, ficou longe de brilhante, mas o ministro dispensou esses detalhes. Em seu mundo, muito diferente e muito distante dessas ninharias, os problemas do Brasil vieram todos de fora, na pior fase da crise global. E agora? Com a recuperação dos Estados Unidos e do mundo rico, problemas continuarão sendo importados, porque os estímulos monetários americanos serão reduzidos e os mercados financeiros serão afetados. Em resumo, ruim com crise, ruim sem crise.
Mas o País conseguirá atravessar essa fase sem grandes danos, graças à solidez das contas públicas e à sua saúde econômica, garantiu o ministro da Fazenda. Ninguém sabe ainda quanto cresceu no ano passado o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. As estimativas mais otimistas são próximas de 2,3%. Para este ano, a última projeção do mercado financeiro é um resultado pior, de 1,79%. Talvez os dois ministros tenham tido a esperança de criar, com seu alegre dueto, um pouco mais de otimismo entre os economistas do mercado e, especialmente, entre os avaliadores de risco de crédito, ultimamente mal-humorados em relação ao País.
20/02/2014
às 13:35 \ Opinião‘Azarada’, de Carlos Alberto Sardenberg
Publicado no Portal Sardenberg
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
Uma coisa a gente precisa admitir: a presidente Dilma é azarada. Bem ao contrário do sortudo presidente Lula.
É verdade que Dilma fez escolhas que se mostraram equivocadas, como a tentativa de crescer via consumo e as intervenções nos juros, nos preços, no sistema elétrico. Mas não é menos verdade que o ambiente foi desfavorável.
Se FHC, também azarado, havia padecido com as sucessivas crises dos emergentes (México 94, Coréia 97, Rússia 98), Lula assumiu a presidência em 2003, quando o mundo todo exibia um crescimento exuberante. E, especialmente, no momento de máxima aceleração da China, o que turbinou nossas exportações e trouxe uma enxurrada de dólares para o país. Pela primeira vez na história, o Brasil teve sobra de dólares.
Caiu do céu. Do céu internacional e do agronegócio, sempre tão hostilizado pelo PT. Pois foi o agronegócio que trouxe a maior parte dos dólares.
19/02/2014
às 19:01 \ Direto ao PontoDilma está ocupada demais com a Ucrânia para enxergar os venezuelanos abatidos a tiros pelas milícias do companheiro Maduro
Génesis Carmona, de 22 anos, aluna do curso de Marketing da Universidade Tecnológica do Centro, em Valência, morreu nesta quarta-feira depois de baleada na cabeça durante a manifestação contra o governo de Nicolás Maduro promovida na véspera. A primeira foto mostra Génesis em 2013, quando foi eleita Miss Turismo do Estado de Carabobo. Na segunda imagem, ela aparece nos braços do amigo que a levou de motocicleta ao hospital onde agonizou até transformar-se na quinta vítima fatal dos conflitos na Venezuela.
A marcha na cidade a 170 quilômetros de Caracas, organizada para protestar contra a a prisão do líder oposicionista Leopoldo López (que antes de se entregar aos carcereiros gravou o vídeo reproduzido abaixo), foi interrompida a tiros por uma milícia de motoqueiros a serviço do regime chavista. Outros oito manifestantes ficaram feridos. Nenhum sofreu lesões tão graves quanto as provocadas pela bala que se alojou na parte traseira do crânio de Génesis.
Também nesta quarta-feira, três dias depois da declaração de apoio a Maduro endossada pelos cinco patetas do Mercosul, o governo brasileiro voltou a tratar de tiroteios internacionais. Não para lamentar a morte de Génesis Carmona, muito menos para exigir que o companheiro Maduro evite a travessia do atalho que pode desembocar na guerra civil. Numa nota distribuída pelo Planalto, Dilma Rousseff ensinou que é hora de substituir o confronto nas ruas pelo diálogo.
Só que o texto nada tinha a ver com a Venezuela: o tema era a Ucrânia. Dilma tem tanta intimidade com o quadro político da antiga república soviética quanto Lula com a história do Cazaquistão. A presidente do Brasil resolveu derramar-se em platitudes sobre um país que mal sabe onde fica para passar ao largo da Venezuela cujos governantes conhece bem. Bem demais.
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