GERAL
Cartas de Buenos Aires: Argentina, “the economy, stupid!”
Mauricio Macri, presidente da Argentina (Foto: Divulgação)
O primeiro mês do Governo de Mauricio Macri consistiu em uma sequencia de medidas dolorosas aplicadas pela nova gestão para “sincerar” (palavras do Governo) a economia.
O primeiro mês do Governo de Mauricio Macri consistiu em uma sequencia de medidas dolorosas aplicadas pela nova gestão para “sincerar” (palavras do Governo) a economia.
Inflação nas alturas, desvalorização da moeda e o fim dos subsídios nos serviços básicos, como a energia, atingem em cheio os bolsos dos argentinos e também de milhares de brasileiros que vivem no país. Isso, somado a alta do dólar no Brasil, fez com o que a Argentina se transformasse em um destino caro.
A desculpa do Governo é a de praxe numa transição de gestão: é preciso pôr a casa em ordem.
A ironia aqui é que Macri, eleito em novembro, está cumprindo as promessas de campanha. Embora não explicitasse, naquele momento, o corte dos subsídios, era mais do que sabido que seria exatamente isso que o neoliberal Macri iria implementar.
Depois de 12 anos de kirchnerismo, os argentinos optaram por essa linha. Não era preciso ser nenhum cientista nuclear para entender que um Governo neoliberal iria restringir ao máximo as intervenções estatais na economia como um todo. Mas essa nova postura, pelo menos em curto prazo, é mais um golpe na já espancada classe média argentina.
A intelectual Beatriz Sarlo explicou recentemente que a única política de Macri consiste em fazer exatamente o contrário de sua predecessora Cristina Kirchner. Ou seja, mais economia de mercado e menos populismo. Isso é bom ou ruim? Só o tempo dirá, mas o que já se sabe é que isso é caro. Por agora, a conta de luz no mês que vem poderá vir até 600% mais cara. Os argentinos temem que esse aumento seja repassado aos demais setores da economia.
James Carville, estrategista da bem sucedida campanha presidencial de Bill Clinton em 1992, cunhou a expressão “The economy, stupid!”, uma das três mensagens enfocadas na campanha americana naquele momento: economia, mudança versus mais do mesmo e assistência médica.
Macri foi eleito sob a chancela de um slogan de apenas uma palavra “Cambiemos” (mudemos) e todos sabiam que debaixo desse guarda-chuva genérico estava uma economia de mercado com cortes nos subsídios. A ideia era que essas medidas ajudariam na inserção da Argentina no âmbito internacional, gerando investimentos. Ou seja, a economia, stupid!
Enquanto brasileiros que optaram por viver no país vizinho (a ausência de vestibular para medicina e a qualidade da educação em geral ainda atraem muitos brasileiros) se desesperam com a alta do dólar no Brasil e com os preços na Argentina e os turistas reclamam da carestia local, os hermanos têm a esperança de que os sacrifícios de agora propiciem a estabilidade de amanhã.
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