quinta-feira, maio 12, 2016
Lindão, Lindinho e democracia - ELIANE CANTANHÊDE
O ESTADO DE S. PAULO - 12/05
Tanto se falou em golpe, guerra e confrontos de rua com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, mas se houve uma surpresa na sessão história de ontem no plenário do Senado foi que tudo, dentro e fora do Congresso, transcorreu em paz, com episódios isolados para confirmar a regra.
No impeachment de Fernando Collor, o País viveu uma grande e alegre festa cívica. Na decisão sobre o afastamento de Dilma, houve uma surpreendente normalidade, como se o mundo real estivesse tão conformado quanto o mundo político. O PT exerceu o justo direito de espernear, mas nada próximo do que muitos ameaçavam.
O Brasil e o Congresso respondem com atos e rotina à versão alardeada no exterior de que temos aqui uma República de Bananas e um golpe de Estado, ou constitucional, ou parlamentar ou qualquer coisa semelhante. Na realidade, o Brasil vive uma democracia ainda tensa e bem animada, mas uma democracia, com a cidadania mobilizada como há muito não se via.
Magno Malta (PR), para o bem e para o mal, virou uma estrela nas redes sociais, nas mesas das famílias e até em rodinhas de jornalistas. Ana Amélia (PP) consolidou uma imagem firme, afirmativa. Os telespectadores descobriram a estreante Simone Tebet (PMDB). Jorge Viana (PT) fez uma defesa consistente do PT, de Lula e de Dilma – mais do PT e de Lula do que de Dilma. E a classe média urbana começou a perder o preconceito contra Ronaldo Caiado (DEM).
Afora a ameaça ridícula de Caiado de trocar sopapos com Lindberg Faria (PT), os embates entre o líder ruralista e o ex-cara-pintada mostraram, ao vivo e em cores, o quanto o País está mudando e qual o estrago que o poder fez à imagem do PT e à esquerda.
Dez, 20 anos atrás, seria uma heresia elogiar Caiado fora de Goiás e era politicamente correto elogiar Lindberg. Hoje, ambos tiveram papel de destaque na comissão e no plenário e ambos podem igualmente ser elogiados ou criticados. Caiado, médico e aplicado, pelo raciocínio claro e pela argumentação bem construída. Lindberg, o “Lindinho”, por manter o ímpeto juvenil, a capacidade de luta e de provocação.
A opinião pública torceu o nariz para aquele festival da Câmara de elogios à mãe, aos filhos, a divindades e aos cachorrinhos. Agora, porém, tem motivos para elogiar o Senado, onde os discursos foram esclarecedores. Afinal, pessoas e governos não são deuses ou diabos, nem céus e infernos.
Se Jorge Viana foi consistente e nada histriônico ao defender o governo, o seu melhor contraponto foi o líder do DEM, Agripino Maia, didático ao historiar a Lei de Responsabilidade até explicar, ponto a ponto, o que foram as pedaladas fiscais e por que caracterizam crime de responsabilidade.
Numa semana em que foi particularmente feliz em suas decisões e na condução dos trabalhos, Renan Calheiros fez bem em querer acelerar os trabalhos, mas permitir que o regimento fosse cumprido e cada um tivesse seus 15 minutos não só de fama, mas de exposição.
A opinião pública, o eleitorado, a história e, portanto, a democracia, agradecem. O afastamento de um ou uma presidente é sempre traumático, mas o Brasil chega ao de Dilma tranquilo, com as instituições funcionando plenamente, o PT se organizando para ser uma oposição efetiva (tomara que responsável) e com uma expectativa positiva em relação à transição com Michel Temer. Ele tem 180 dias para mostrar a que veio. Se não mostrar, o risco não é a volta de Dilma, é a tese das “diretas, já” que ronda o TSE e boa parte do Congresso.
Tanto se falou em golpe, guerra e confrontos de rua com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, mas se houve uma surpresa na sessão história de ontem no plenário do Senado foi que tudo, dentro e fora do Congresso, transcorreu em paz, com episódios isolados para confirmar a regra.
No impeachment de Fernando Collor, o País viveu uma grande e alegre festa cívica. Na decisão sobre o afastamento de Dilma, houve uma surpreendente normalidade, como se o mundo real estivesse tão conformado quanto o mundo político. O PT exerceu o justo direito de espernear, mas nada próximo do que muitos ameaçavam.
O Brasil e o Congresso respondem com atos e rotina à versão alardeada no exterior de que temos aqui uma República de Bananas e um golpe de Estado, ou constitucional, ou parlamentar ou qualquer coisa semelhante. Na realidade, o Brasil vive uma democracia ainda tensa e bem animada, mas uma democracia, com a cidadania mobilizada como há muito não se via.
Crises, votações históricas e transmissões pela TV acabam servindo como aulas de política e oportunidades para que as pessoas aprendam. Aprenderam o que são a Câmara e os deputados, como agora descobrem como é o Senado e quem é quem no Senado.
Magno Malta (PR), para o bem e para o mal, virou uma estrela nas redes sociais, nas mesas das famílias e até em rodinhas de jornalistas. Ana Amélia (PP) consolidou uma imagem firme, afirmativa. Os telespectadores descobriram a estreante Simone Tebet (PMDB). Jorge Viana (PT) fez uma defesa consistente do PT, de Lula e de Dilma – mais do PT e de Lula do que de Dilma. E a classe média urbana começou a perder o preconceito contra Ronaldo Caiado (DEM).
Afora a ameaça ridícula de Caiado de trocar sopapos com Lindberg Faria (PT), os embates entre o líder ruralista e o ex-cara-pintada mostraram, ao vivo e em cores, o quanto o País está mudando e qual o estrago que o poder fez à imagem do PT e à esquerda.
Dez, 20 anos atrás, seria uma heresia elogiar Caiado fora de Goiás e era politicamente correto elogiar Lindberg. Hoje, ambos tiveram papel de destaque na comissão e no plenário e ambos podem igualmente ser elogiados ou criticados. Caiado, médico e aplicado, pelo raciocínio claro e pela argumentação bem construída. Lindberg, o “Lindinho”, por manter o ímpeto juvenil, a capacidade de luta e de provocação.
A opinião pública torceu o nariz para aquele festival da Câmara de elogios à mãe, aos filhos, a divindades e aos cachorrinhos. Agora, porém, tem motivos para elogiar o Senado, onde os discursos foram esclarecedores. Afinal, pessoas e governos não são deuses ou diabos, nem céus e infernos.
Se Jorge Viana foi consistente e nada histriônico ao defender o governo, o seu melhor contraponto foi o líder do DEM, Agripino Maia, didático ao historiar a Lei de Responsabilidade até explicar, ponto a ponto, o que foram as pedaladas fiscais e por que caracterizam crime de responsabilidade.
Numa semana em que foi particularmente feliz em suas decisões e na condução dos trabalhos, Renan Calheiros fez bem em querer acelerar os trabalhos, mas permitir que o regimento fosse cumprido e cada um tivesse seus 15 minutos não só de fama, mas de exposição.
A opinião pública, o eleitorado, a história e, portanto, a democracia, agradecem. O afastamento de um ou uma presidente é sempre traumático, mas o Brasil chega ao de Dilma tranquilo, com as instituições funcionando plenamente, o PT se organizando para ser uma oposição efetiva (tomara que responsável) e com uma expectativa positiva em relação à transição com Michel Temer. Ele tem 180 dias para mostrar a que veio. Se não mostrar, o risco não é a volta de Dilma, é a tese das “diretas, já” que ronda o TSE e boa parte do Congresso.
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