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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Abuso sexual contra estudantes da USP tem protestos de alunas e promessas da direção da faculdade para aumentar a fiscalização da violência contra a mulher


25/11/2014 12h27 - Atualizado em 25/11/2014 13h01

Alunas da Faculdade de Medicina da USP protestam contra abuso sexual

Casos de denúncia de estupros estão sendo investigados.
Faculdade vai aumentar segurança e cuidar da recepção a calouros.

Cauê FabianoDo G1, em São Paulo

Alunas da Faculdade de Medicina da USP fazem no início da tarde desta terça-feira (25) um protesto em frente aos portões da instituição, na Avenida Doutor Arnaldo, Zona Oeste da capital, contra a violência e o abuso sexual denunciado nas festas de estudantes. Vestindo camisetas roxas para lembrar o dia internacional de combate à violência contra a mulher, as estudantes escreveram faixas pedindo o fim dos casos de violência na USP. Denúncias de abuso sexual, intolerância racial e homofobia na FMUSP estão sendo investigados pelo Ministério Público.
A faculdade está em processo de investigação dos casos de denúncias de estupros de alunas e outros tipos de violência nas festas promovidas pelos estudantes. Em reunião no Ministério Público na noite desta segunda-feira (25), o diretor da FMUSP informou que a instituição recebeu quatro denúncias formais. No inquérito civil, a promotora relata oito casos de denúncia registrados desde 2011.
O grupo de alunas pede mais efetivo feminino na Guarda Universitária, a contabilização e divulgação dos casos de violência dentro da faculdade. Ana Luiza Cunha, 26 anos, aluna de medicina da USP, estava presente na reunião realizada nessa terça-feira (25), e afirmou que o clima estava "tenso", e que o diretor da FMUSP, José Otávio Costa Auler Jr., comparou os casos ocorridos na faculdade com o que ocorre na sociedade em geral. O reitor Marco Antonio Zago também fez essa comparação.
Estudantes de medicina da USP preparam faixas de protesto contra a violência no campus (Foto: Cauê Fabiano/G1)
Estudantes de medicina da USP preparam faixas de protesto contra a violência no campus (Foto: Cauê Fabiano/G1)"Na reunião, o diretor disse que o que acontece na USP é o que acontece lá fora", afirmou Ana, dizendo em seguida que a universidade estaria "negando" a gravidade dos acontecimentos ocorridos com as alunas.
"Estávamos otimistas no começo, e estava havendo uma resposta da universidade de abrir sindicâncias, mas, ao mesmo tempo, as declarações do reitor e diretor são de negar os problemas. Estamos preocupadas com as declarações feitas pela diretoria e pela reitoria, informou a aluna, completando que acha "desrespeitosa" a forma como as vítimas de abuso vem sendo tratadas.
"É desrespeitoso com as vítimas, que estão sendo silenciadas, como se não acontecesse nada. O próximo passo é que eles reconheçam que houve problemas sim", afirmou a graduanda.
As estudantes Ana Luiza Cunha e Letícia Pinho durante manifestação na FMUSP (Foto: Cauê Fabiano/G1)


As estudantes Ana Luiza Cunha e Letícia Pinho durante manifestação na FMUSP (Foto: Cauê Fabiano/G1)     Ana Luiza disse que espera que o relatório que será votado em uma congregação nessa quarta-feira (26) seja aprovado, já que o documento prevê diversas medidas como a criação de grupos de apoio psicológico às vítimas e palestras sobre preconceito e assédio, e que os programas precisam ser educativos, e não apenas punitivos.
"O próximo passo aqui dentro é levar essa luta para outras faculdades, porque essa violência não acontece só na FMUSP", concluiu,
Alunas de outros cursos também participam da manifestação. "Não é uma novidade para a gente. A própria universidade sabe que não é novidade", disse Letícia Pinho, de 26 anos, membro do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e da Frente Feminista da USP. A aluna de ciências sociais destacou que um dos casos citados nas comissões é de 2011, e reclama da falta de recursos para que as denúncias de abuso sejam apuradas.
"Na USP, a gente não tem um lugar para fazer as denúncias. Não há um atendimento específico para os assédios. Nos últimos dois conselhos universitários, ninguém propõe soluções efetivas. Não estamos sendo ouvidas, afirmou Letícia.
Entre algumas das medidas que a Frente Feminista defende, por meio da campanha "Chega de violência" estão a criação uma ouvidoria, Um centro de referência e atendimento à vítimas de abuso, aumentar o efetivo feminino na guarda universitária, e melhorar iluminação do campus.
A aluna também sublinhou que são frequentes as denúncias de abuso, intimidação, agressões físicas, perseguição e assédio feitas à Frente Feminista, e que a culpa não está na festas realizadas na universidade.
"Acabar com o open bar  é uma medida de espetáculo. As pessoas acabam entendendo os motivos errados dos casos.
Faculdade suspende festas
Estudantes de medicina penduram cartazes nos portões da faculdade (Foto: Cauê Fabiano/G1)Estudantes de medicina penduram cartazes nos portões da faculdade (Foto: Cauê Fabiano/G1)







     A direção da faculdade vai assumir a recepção aos calouros a partir do ano que vem, com um evento "sem álcool", a promoção de trote solidário e apresentação de projetos de humanização da instituição. Além disso, a FMUSP estuda ampliar a segurança com mais iluminação, mais câmeras internas e a implantação de catracas e controle de acesso.
Até hoje, a recepção dos alunos ficava a cargo dos estudantes veterenos do Centro Acadêmico e da Associação Atlética da FMUSP. A próxima turma de calouros será conhecida a partir do vestibular da Fuvest, que terá a primeira fase neste domingo (30). O curso de medicina é o mais concorrido com 55,02 candidatos por vaga. Desde a morte do calouro Edison Tsung Chi Hsueh, afogado em uma piscina da faculdade após um trote em 1999, a recepção dos novos alunos tem sido feita de forma discreta na Medicina da USP.
A decisão de assumir a recepção dos calouros foi comunicada em reunião que terminou na noite desta segunda-feira (24) entre o diretor da faculdade, José Otávio Costa Auler Jr., e Paula de Figueiredo Silva, promotora de Justiça dos Direitos Humanos do Ministério Público de São Paulo. Também participou o procurador da USP, Arcênio Rodrigues da Silva.
Ainda de acordo com a ata da reunião, a diretoria da FMUSP "reconhece os problemas existentes na faculdade e manifesta disposição em saná-los". A direção apresentou como proposta a criação de um o Centro de Defesa de Direitos Humanos, que inclui um núcleo de atendimento com estrutura multidisciplinar (psiquiatras, psicologos, assistentes sociais e advogados), e uma ouvidoria mista, com membros internos e externos.
Veja ao lado reportagem do Fantástico sobre abusos sexuais na USP
O diretor explicou que os eventos realizados na faculdade por Atlética, Centro Acadêmico e Show da Medicina são de autonomia dos organizadores e que não tinha conhecimento de garotas de programa na festa e de atos de violência contra os novatos. A promotora solicitou vídeos dos arredores e do auditório do Show da Medicina.
A direção reforçou que vai propor na reunião desta quarta-feira (26) com a congregação da faculdade a suspensão temporária de todas as festas até o estabelecimento de novas regras de funcionamento, segurança e gerência. "Para a liberação de novas festas, deverão ser analisados os estatutos, os contratos de serviços, a questão da segurança pessoal, espaço físico e o estabelecimento de penalidades para quem infringir o regimento", diz a ata.
Também foi apresentada a atual grade curricular de humanística e a ideia de incluir a participação dos alunos em programas sociais para ganhar créditos.
Violência é reflexo da sociedade, diz reitor
O reitor da Universidade de São Paulo, Marco Antonio Zago, disse nesta segunda-feira (24) que os casos de violência na instituição são um reflexo do que acontece na sociedade. A USP teve este ano casos de assaltos no interior do campus, morte de um jovem após uma festa e agora vem à tona casos de denúncias de abuso sexual de alunas do curso de medicina.
Segundo Zago, os casos de violência "são questões de natureza policial, são criminais". "A USP pela sua enorme extensão e enorme tamanho tem ocorrências como em qualquer local da sociedade", afirmou o reitor nesta segunda-feira após um evento comemorativo aos 80 anos da universidade. "Elas devem ser tratadas com a devida atenção, tanto pela universidade pelo aspecto educativo como pelo Ministério Público no que diz respeito a crimes."
O reitor disse ainda que a USP está fazendo o que pode para colaborar com as insvetigações.
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) vai promover uma nova audiência pública para discutir as denúncias de estupro, tentativa de estupro e ameaças conta estudantes de medicina da Universidade de São Paulo (USP). O reitor da USP e o diretor da FMUSP foram convidados mas não deverão participar da audiência pública.
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