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A posição brasileira
Não compreendemos a posição do Brasil. Ou não queremos compreender, tamanho é o bem que lhe queremos. O Brasil nos arrasou como sicário da Rainha Vitória. Nós o perdoamos e juntos construímos o colosso de Itaipu. Nós o tratamos bem e ele defende a continuidade de uma das piores fases de nossa história. Em nome do quê? Nega-nos o direito à autodeterminação, mas se esquece do papelão ridículo que fez em defesa de um cretino como Zelaya, um corrupto ligado a grupos somozistas de extermínio e que era tão esquerdista como Stroessner e tão democrata quanto Pinochet.
Foi deplorável o papel do inexpressivo chanceler Patriota (que não se perca pelo nome), saracoteando pelas ruas de Assunção em desabalada carreira, pressionando os partidos Liberal e Colorado em favor de um presidente que caía. Adentrando o Parlamento ao lado do chanceler de Hugo Chávez, o Sr. Maduro, para formular ameaças em benefício de um presidente que o país rejeitava. Ou indo ao vice-presidente Federico Franco ameaçá-lo com imensa desfaçatez, desconhecendo seu papel constitucional e o fato de que ninguém renunciaria a nada apenas por uma ameaça calhorda da Unasul (que não é nada) e outra não menos calhorda do Mercosul (que não é nada mais que uma ficção). O Barão do Rio Branco arrancou seus bigodes cofiados no túmulo profanado pelo Itamaraty de hoje.
O que quer o governo Dilma? Passar pelo mesmo vexame de Lula na paupérrima Honduras? Nós temos imensa disposição de manter uma parceria que se revelou positiva e decente para ambos os países. Mas a austera presidente não nos inspira o mesmo terror-medo-pânico que infunde nos seus auxiliares e ministros. Cara feia não faz história, apenas corrói biografias. Dilma chamou seu embaixador em Assunção, Cristina fez o mesmo. As matronas radicais só não sabiam que o embaixador brasileiro é um ausente total, passando mais tempo em Pindorama do que aqui. O embaixador Eduardo Santos é tido no Paraguai como alguém que acredita que as melhores coisas em nosso país são ar condicionado e passagem de volta. Recorda o ex-embaixador Orlando Carbonar, que foi pego de surpresa em fevereiro de 1989 pelo movimento que derrubou o general Stroessner. Até meus filhos, crianças naquela época, sabiam que o golpe se avizinhava e que estouraria a qualquer momento. Só não sabia disso o embaixador brasileiro, que descansava no carnaval de Curitiba, onde nasceu. Voltou às pressas, num jatinho da FAB, para embarcar Stroessner rumo ao Brasil. E a Argentina… Bem, a Argentina não tem embaixador no Paraguai faz alguns meses… Ocupadíssima, Dona Cristina não nomeou seu substituto. País de necrófilos (amam Gardel, Che, Evita e Maradona, entre outros defuntos), chamou um embaixador que não existe, um diplomata fantasma, para consultas na Casa Rosada.
O Paraguai fez o que tinha que fazer. Seguirá adiante, como seguem adiante as Nações, testadas e curtidas pelas crises que retemperam a cidadania e reforçam a nacionalidade. O religioso que não honrou seus votos de castidade e pobreza e traiu sua igreja foi por ela rejeitado. O presidente que não honrou nossos votos e nos traiu por nós foi deposto. Deposto por incapaz, por mentiroso, por ineficiente, por desonesto. Mas principalmente por ter traído as esperanças de um país e de um povo que precisaram dele e nele confiaram. Por isso, Lugo não voltará.
(*) Chiqui Avalos é um conhecido escritor e jornalista paraguaio. Combateu a ditadura de Stroessner e apoiou a candidatura de Fernando Lugo. É editor de “Prensa Confidencial”, influente boletim digital editado em Assunção.
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