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quarta-feira, 31 de julho de 2013

Banalização do Bem versus Banalização do Mal // Zuenir Ventura

Enviado por Ricardo Noblat - 
31.07.2013
 | 
09h15m
GERAL

Banalização do Bem, por Zuenir Ventura

Zuenir Ventura, O Globo


Nesses tempos sombrios de violência, guerra, miséria e fome, em suma, da chamada banalização do Mal, é sintomático que o Papa Francisco tenha conseguido um extraordinário sucesso pregando justamente o contrário, algo como a banalização do Bem.


A sua foi a primeira voz autorizada de alcance planetário a se levantar contra a razão cínica em voga, propondo em seu lugar um círculo virtuoso, uma espécie de revolução ética contra a cultura do provisório, da exclusão e do descartável.


Quem sabe ele não estará pondo fim a um ciclo de produção do mal como energia incontrolável? O filósofo francês Jean Baudrillard, estudioso do tema e cético quanto à sua erradicação, achava inevitável o funcionamento das sociedades sobre a base da “disfunção, do acidente, do catastrófico, do irracional”. Na sua opinião, “dizer que tudo isso pode ser exorcizado, erradicado, significa insistir numa perspectiva religiosa da salvação”.


Pois durante a semana que passou entre nós, foi nessa perspectiva que o Papa insistiu, distribuindo esperança e atualizando antigos valores e virtudes como a solidariedade e a tolerância, esquecidos ou “fora de moda”.


Ele pode até ser criticado pelo que calou (aborto, preservativo, célula-tronco), mas não pelo que falou de outros temas tabus: “Se uma pessoa é gay, quem sou eu para julgá-la?” “A mulher na Igreja é mais importante que os bispos e os padres”.


A maior novidade de seu discurso inovador é que a reforma moral proposta por ele deve passar pelo diálogo e o encontro, não pelo confronto. Pela compreensão, não pela animosidade. Nunca pela intransigência e o radicalismo. Essa talvez seja a melhor contribuição para a paz do evangelho segundo Francisco.


Ao facilitarem o trabalho dos garis ajudando a recolher o lixo depois dos eventos, os peregrinos deram uma lição de educação para os foliões sujismundos e mijões, que no carnaval espalham detritos nas ruas e urinam nas calçadas, canteiros e até através das grades dos edifícios. Mais um legado de civilidade deixado pelos alegres fiéis da JMJ.


Por falar em onda do bem: o Instituto do Cérebro Paulo Niemeyer, que está sendo inaugurado, impressiona não só porque é um dos mais bem instalados e equipados do mundo, mas também por ser uma obra “padrão Papa”, ou seja, é excelente e não se destina aos privilegiados, e sim aos necessitados do SUS. E pensar que, com o que foi gasto com muitos dos estádios que vão virar elefantes brancos depois da Copa, algumas dezenas desses hospitais podiam ser construídos pelo Brasil afora.











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