“Getz / Gilberto” reaparece 50 anos depois em nova versão
Houve um tempo em que o intercâmbio musical entre artistas de países distantes era mais notável no cenário fonográfico mundial. No caso do Brasil, talvez, Carmen Miranda seja quem melhor representa esta cultura, levando grande parte do nosso país para o pessoal da América do Norte ver. Mas outros também conseguiram êxito nesta jornada, como foi o caso da junção entre João Gilberto e o saxofonista estadunidense Stan Getz. Os dois gravaram Getz / Gilberto, um disco essencialmente de Jazz, que tem muita história para contar.
A junção de João com Getz chegou ao seu ápice no ano de 1976, quando ambos se apresentaram juntos no clube Keystone Korner, em San Francisco. Na época, a mistura da Bossa Nova com o Jazz em uma sociedade americana ainda centrada, em parte, na psicodelia causou furor em muitos amantes da boa música.
Quase 40 anos depois do lendário show na Califória, João Gilberto (que completou nesta quarta, dia 10 de junho, 84 anos) vai ganhar um presente especial: gravações da sua apresentação com Stan foram recuperadas e serão relançadas agora através da gravadora norte-americana Resonance Records.
“Getz / Gilberto ’76”
Quando se apresentou no Keystone Korner, nosso músico inseriu no repertório sucessos como Rosa Morena e Doralice, de Dorival Caymmi; Eu Vim Da Bahia, de Gilberto Gil; e Águas De Março, de Tom Jobim. Tais músicas se juntaram na época à Garota De Ipanema, composta por Tom Jobim e Vinícius de Morais. Graças a João, a música acabou se tornando um sucesso mundial.
Tudo ganhou novos contornos com o lançamento do disco Getz / Gilberto, gravado em 1962 e lançado dois anos depois. O repertório apresentado por 6 noites consecutivas naquele mesmo ano no Keystone Korner se baseou, porém, na lista de músicas de outro LP em parceria entre Stan e João: Best Of Two Worlds.
A mistura destes dois trabalhos de estúdio ganha agora uma nova versão, uma coletânea raríssima e especial, batizada de Getz / Gilberto ’76, e que busca perpetuar as preciosas apresentações dos dois artistas. Especializada exatamente em raridades, a Resonance Records acredita que tem em mãos um grande tesouro, que passou pela curadoria de Todd Barkan.
Barkan: “Foram algumas das semanas mais emocionantes […] daquele clube”
Todd era o dono do Keystone Korner e ajudou a co-produzir este novo trabalho. Ele se diz ainda maravilhado com a apresentação ao vivo, de décadas atrás, e destacou em entrevista para a Folha de S. Paulo a habilidade musical de João Gilberto em sempre apresentar novas e sutis nuances emocionais em diversas interpretações.
“Foram algumas das semanas mais tocantes e mágicas que tivemos nos anos de existência daquele clube de jazz hippie e psicodélico em North Beach, São Francisco. Para mim, foi música das mais emocionantes e hipnotizantes que já ouvi nos mais de 50 anos que trabalho com jazz.”
Sobre a importância de se resgatar todo este conteúdo, Barkan destaca o processo de gravação e recuperação de áudios pelas quais as músicas passaram:
“Essas gravações foram feitas originalmente para arquivo, direto da mesa de som, em um gravador de fitas da marca TEAC. Ao Longo dos anos, alguns amigos me ajudaram a transferir as fitas para arquivos digitais, para garantir que essa música preciosa não se perdesse no tempo e no espaço, independente de elas serem ou não lançadas comercialmente.”
Apesar de não ter data oficial de lançamento, o registro é aguardado ainda para este ano. Porém, em abril, a Resonance comercializou uma edição promocional do projeto, com quatro faixas que estarão presentes no disco gravadas em vinil. Mas possivelmente nada chegará aos pés da coletânea completa, que será uma arca cheia de moedas de ouro cantadas por dois grandes ícones da música mundial.
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