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domingo, 22 de julho de 2012

"O modo de vida masculino está falido. Estamos à beira de uma revolução feminista..."

Surreal

E se... o mundo fosse governado pelas mulheres?

O mundo seria mais doce, na opinião das próprias mulheres. Elas estariam dispostas a dividir o poder com os homens, que as dominaram por milênios.

por Eliza Muto* e Stefan Gan*



Visão feminina
O mundo seria mais doce, na opinião das próprias mulheres. Elas estariam dispostas a dividir o poder com os homens, que as dominaram por milênios. Nessa nova sociedade prevaleceriam governantes do sexo feminino, porém mulheres e homens teriam os mesmos direitos e também as mesmas oportunidades.
Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo, não acredita que os homens fossem prejudicados nesse universo cor-de-rosa. “As mulheres podem ascender ao poder, mas não dominar o mundo”, diz. Opinião parecida tem a socióloga Heleieth Saffioti, um dos maiores nomes do feminismo brasileiro: “Se fosse assim, estaríamos só trocando o sinal do sexismo”.
Ambos os sexos poderiam desenvolver suas potencialidades – no trabalho, na vida familiar ou na vida social. Enquanto a mulher trabalhasse para garantir o sustento da família, o homem cuidaria do lar e dos filhos. Ou o contrário. “O importante é que haja uma divisão das tarefas e que ambos tenham os mesmos direitos”, afirma a uruguaia Lucy Garrido, coordenadora da Articulación Feminista Marcosur, iniciativa que congrega mulheres de vários países sul-americanos.
Os homens só teriam a ganhar com essa novíssima ordem mundial. Eles pagam caro para dominar a cena. Só para dar dois exemplos: não podem broxar e têm de garantir o leite das crianças. No mundo feminino, eles poderiam relaxar e dar mais vazão à sensibilidade. “Eles poderiam expressar melhor suas emoções e se cuidar mais, ou seja, ter características mais ‘femininas’”, diz a psicóloga Ana Carolina de Oliveira Costa, da USP.
A sensibilidade feminina também poderia dar um fim permanente às guerras. Na opinião de Lucy, “as mulheres poderiam tentar solucionar conflitos por meio do diálogo e da negociação”.
Visão masculina
Os homens temem um mundo governado por mulheres. Na opinião deles, elas mostrarão suas garras e virarão o jogo, deixando o sexo masculino em posição de inferioridade. Para o psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg, a era feminina chegará em breve. “Estamos à beira de uma revolução feminista. O modo de vida masculino está falido”, diz. Segundo ele, é natural que haja uma inversão de papéis. Os homens perderiam os melhores postos na economia, na política e – o pesadelo supremo do machão – ficariam encarregados das tarefas domésticas, como limpar a casa e cuidar dos filhos.
Assim, na visão masculina, é provável que o relacionamento entre os sexos fique ainda mais complicado. Para o cientista político mexicano Adrian Gurza Lavalle, da PUC de São Paulo, os homens ainda estão acostumados com a idéia de serem a fonte de sustento da família e vão relutar em aceitar a nova realidade. “A compreensão da família ainda não mudou. E vai mudar muito vagarosamente”, diz ele. “No México, por exemplo, a taxa de divórcio é brutal na fronteira com os EUA, pois lá a mão-de-obra favorece as mulheres, e os homens ficam de lado. Isso causa um conflito familiar.”
Em uma coisa os homens concordam com a visão feminina desse mundo imaginário: a vida seria mais pacífica caso elas governassem. Evaldo Alves, professor de economia internacional da Fundação Getúlio Vargas, põe fé na habilidade diplomática das garotas. “As mulheres entendem melhor as relações humanas e costumam valorizar mais a negociação e o diálogo”, afirma. “Não é por acaso que elas já ocupam, hoje em dia, cargos políticos tão importantes”. Como exemplo, o professor cita Angela Merkel (primeira-ministra alemã) e Michelle Bachelet (presidente do Chile).
*Os repórteres Eliza Muto e Stefan Gan são casados e dividem as tarefas domésticas.

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