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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Olimpíada e Copa: os cartolas não aceitam largar o osso... - Esporte - Notícia - VEJA.com

Olimpíada e Copa: os cartolas não aceitam largar o osso... - Esporte - Notícia - VEJA.com

Tarja - Rio 2016
26/09/2012 - 12:35


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Olimpíada e Copa: os cartolas não aceitam largar o osso...

Nuzman e Marin concentram poder e contrariam modelo de sucesso de eventos em todos os outros países. Escândalo de 2016 mostra como isso é prejudicial

Carlos Arthur Nuzman
Carlos Arthur Nuzman: aguardando a reeleição, ele não falou sobre o furto de dados (Ian Walton/Getty Images)
O modelo adotado pelos brasileiros fecha as portas da Copa e da Olimpíada ao envolvimento de pessoas capazes de transformar e revolucionar esses eventos
escândalo do furto de dados de Londres-2012 por integrantes da Rio-2016 ainda tem muitas perguntas sem resposta, mas pelo menos uma coisa ficou clara: a concentração de poder no comando dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos tem consequências nefastas para a organização do evento. Carlos Arthur Nuzman, de 72 anos, ainda não se pronunciou publicamente a respeito do episódio. Era de se esperar que o chefe do comitê organizador explicasse pessoalmente o ocorrido em Londres. Nuzman, porém, não é só o presidente da entidade criada para a realização dos Jogos. Ele é também o dirigente máximo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que realiza, no mês que vem, uma nova eleição presidencial. O cartola não tem rivais na disputa e sua reeleição já está garantida. Ainda assim, sinalizou a interlocutores que não pretendia falar sobre o furto de dados porque temia a "exploração política" do ocorrido. O sumiço de Nuzman em meio a um caso tão constrangedor como o da semana passada mostra bem por que o responsável pela organização de uma Olimpíada (ou de uma Copa do Mundo) não deve acumular outras funções, especialmente as que contêm um elemento político. Em meio a um caso grave, com repercussão internacional, Nuzman deveria cumprir seu papel de presidente do comitê organizador, mas está ocupado demais sendo o presidente do COB, em campanha por mais um mandato.
Leia também: Rio-2016 volta a 'lamentar' furto, mas ainda não explica o caso
Presenteado com a chance de organizar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada num intervalo de apenas dois anos, o Brasil já mudou - e para pior - um aspecto importante da realização desses eventos. Nas últimas décadas, as duas principais festas esportivas do planeta já passaram por países ricos e outros nem tanto, por nações do Ocidente e do Oriente, pelas mais variadas culturas. Em todas elas, havia pelo menos uma coisa em comum: o presidente do comitê organizador do evento não era o mesmo dirigente que comandava a federação de futebol local, no caso da Copa, ou o comitê olímpico do país, no caso dos Jogos (confira no quadro abaixo). Em Londres-2012, Sebastian Coe se consagrou ao organizar uma grande Olimpíada, e Colin Moynihan comandou uma extraordinária campanha britânica no quadro de medalhas. O primeiro dedicou-se exclusivamente a montar o evento; o segundo, à formação da delegação do país e ao desempenho esportivo dos anfitriões da festa. Essa divisão de funções não garante o êxito de um Mundial ou de uma Olimpíada, evidentemente. Mas pouca gente acredita que exista algum benefício na concentração de poder adotada pelos brasileiros. Além de Nuzman - que chefiou a candidatura vitoriosa do Rio a sede da Olimpíada e atribuiu a si mesmo a missão de organizá-la -, o presidente da CBF, José Maria Marin, também não larga o cargo de presidente do Comitê Organizador Local da Copa de 2014.

Poder dividido: os dirigentes das últimas Copas e Olimpíadas

ANOEVENTOCOMITÊ ORGANIZADORCOMITÊ OU FEDERAÇÃO LOCAL
2012Olimpíada de LondresSebastian CoeColin Moynihan
2010Copa da África do SulDanny JordaanKirsten Nematandani
2010Olimpíada de VancouverJohn FurlongMarcel Aubut
2008Olimpíada de PequimLiu QiLiu Peng
2006Copa da AlemanhaFranz BeckenbauerTheo Zwanziger
2006Olimpíada de TurimValentino CastellaniGiovanni Petrucci
2004Olimpíada de AtenasGianna Angelopoulos-DaskalakiMinos Kyriakou
2002Copa da Coreia e JapãoYun-Taek Lee e Yasuhiko EndoChung Mong-joon e Shuni Okano
2002Olimpíada de Salt Lake CityMitt RomneyMarty Mankamyer
2000Olimpíada de SydneySandy HollwayJohn Coates
1998Copa da FrançaMichel PlatiniClaude Simonet
1998Olimpíada de NaganoEishiro SaitoHironoshin Furuhashi
1996Olimpíada de AtlantaWilliam Porter PayneLeRoy T. Walker


Além das desvantagens mais óbvias - como as dificuldades para conciliar as duas funções e os possíveis conflitos de interesses decorrentes do acúmulo dos dois cargos - o modelo adotado pelos brasileiros fecha as portas da Copa e da Olimpíada ao envolvimento de pessoas capazes de transformar e revolucionar esses eventos (leia mais no quadro abaixo). Nos Jogos de Los Angeles-1984, por exemplo, o presidente do comitê organizador foi Peter Ueberroth, um executivo que conseguiu salvar as Olimpíadas ao criar um modelo financeiro saudável depois do desastre de Montreal-1976. A receita de Ueberroth - que envolve forte participação da iniciativa privada para que o país-sede não precise arcar sozinho com todos os custos do evento - é adotada até hoje. O candidato republicano à Presidência dos EUA, Mitt Romney, foi presidente do comitê dos Jogos de Inverno de Salt Lake City, em 2002. Assumiu o cargo depois de uma série de escândalos que ameaçou até mesmo tirar os Jogos da cidade. O caixa do evento estava no vermelho. Em três anos na função, Romney reorganizou o comitê, conseguiu verbas adicionais e fechou a Olimpíada deixando Salt Lake City com lucro de 100 milhões de dólares. O sucesso olímpico colocou o republicano sob os holofotes - e hoje, em sua campanha eleitoral contra Barack Obama, Romney costuma listar a experiência nos Jogos como um dos principais pontos de seu currículo.

Os gerentes de Copas e Olimpíadas

Seis presidentes de comitês organizadores que não eram cartolas mas foram um sucesso

1 de 6

Sebastian Coe


O ex-corredor assumiu o comando da candidatura londrina na reta final do processo. Foi tão decisivo para a vitória no COI que acabou sendo escolhido para chefiar a organização.

Enquanto isso, Nuzman e Marin ainda seguem a velha cartilha da cartolagem brasileira. Na noite de terça, uma das funcionárias demitidas da Rio-2016 divulgou uma carta enviada a Nuzman depois de sua punição. Ela nega ter furtado dados em Londres e diz que dois dos demitidos nem chegaram a usar os computadores no escritório do comitê britânico. O chefe, no entanto, ordenou a demissão coletiva na tentativa de abafar o escândalo e de se distanciar ao máximo do episódio. Assim como José Maria Marin, 80 anos, ex-jogador de futebol que há décadas circula pelos bastidores do esporte, Carlos Arthur Nuzman, ex-atleta da seleção brasileira de vôlei, tem longa trajetória na cartolagem: já são 37 anos no ramo. Durante 21, foi o principal dirigente do vôlei brasileiro. Está no comando do COB há dezessete anos, desde 1995. Entre as grandes potências olímpicas, não há casos semelhantes ao dele. Em entrevista exclusiva publicada na edição de VEJA da semana passada, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, defendeu o fim dos mandatos quase intermináveis dos cartolas do país. De acordo com ele, "é preciso limitar o tempo de mandato dos dirigentes a três ou quatro anos, com direito a apenas uma reeleição". "Democratização e profissionalismo são as palavras-chave", afirmou. Ao que parece, falta incluir esses termos no vocabulário dos dois principais dirigentes do esporte brasileiro.
Ricardo Moraes/Reuters
José Maria Marin, novo presidente da CBF, durante coletiva no Rio de Janeiro
José Maria Marin ao assumir a CBF: ele imitou Ricardo Teixeira e abraçou também o comitê da Copa
Um dos argumentos que a cúpula da Rio-2016 usa para afastar qualquer pedido de explicações do governo sobre o furto de informações confidenciais do comitê Londres 2012 por dez funcionários do comitê brasileiro é o de que como não há verba pública na Rio 2016, não há explicações a dar para Brasília. Independentemente de ser um argumento que despreza a opinião pública, não chega a ser 100% verdadeiro: todo o eventual déficit da Rio 2016 será coberto pelo governo federal. E o comitê já avisou que em meados de 2013, o primeiro déficit quase que certamente aparecerá.
Vídeo: Augusto Nunes comenta o furto de dados em Londres:

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