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domingo, 12 de agosto de 2012

Ensaio de Otto Maria Carpeaux sobre Nietzsche, a vítima do símbolo terrestre do infinito: "a tolice humana"


POR  EM 17/05/2012 ÀS 05:54 PM

Nietzsche e as consequências

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Em ensaio publicado no livro “A Cinza do Purgatório”, Otto Maria Carpeaux afirma que Nietzsche foi vítima do símbolo terrestre do infinito: a tolice humana
 
Otto Maria Carpeaux
A nenhum homem sério poderia deixar de preocupar a grave discrepância entre os valores da civilização alemã e as forças destruidoras no seio do mesmo povo que os criou. A civilização, a nossa e a universal, seria incompleta, se lhe faltassem a austeridade de consciência de Lutero, a catedral invisível de Bach, o céu olímpico de Goethe, a visão histórica de Hegel, e a lição espiritual de tantos outros; e o que importa não são as obras de alguns gênios, é o espírito que os criou, o espírito alemão. Mas a força alemã pretende destruir a nossa civilização, e empreende a cruzada em nome desse mesmo espírito alemão. Estamos em face de um dilema gravíssimo.

Oferecem-se-nos três soluções: os valores da civilização alemã seriam a justificação espiritual bastante da obra material que aqueles empreendem; ou os próprios valores da civilização alemã seriam os criadores espiritualmente responsáveis daquela força destruidora; enfim, haveria duas Alemanhas, uma divina, outra do diabo, ocupadas numa milenária luta interior, a que assistimos, espectadores compassivos e vítimas passivas.
Nietzsche foi o inimigo mais furioso que o cristianismo jamais teve. E todavia esse filho de gerações de pastores luteranos sofre intimamente de conflitos religiosos e é, afinal, um cristão pascaliano. Karl Jaspers chama à obra de Nietzsche “um campo de ruínas, coberto de destroços contraditórios”. O único laço que lhes dá coerência é a paixão intelectual de Nietzsche, que lembra as personagens de Dostoiévski; é a sua personalidade, agitada nas profundezas da existência humana, o lanço apaixonado de toda a sua personalidade, o que faz da sua loucura a sua obra máxima. Lembra a verdade dos antigos — que os poetas são uns delirantes. Friedrich Nietz­sche era poeta.


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